
O Estado detém 60% do capital social da Biocom, 40% através do IGAPE e 20% da Sonangol. Os restantes 40% pertencem à Odebrecht. A empresa que produz açúcar, etanol e energia eléctrica não entrou no programa de privatizações e a Sonangol prepara-se para aumentar a sua quota no capital social.
O capital social da Companhia de Bioenergia de Angola (Biocom) que produz açúcar, energia eléctrica e etanol em Cacuso, província de Malanje, cresceu de 75 milhões Kz (o equivalente a 1 milhão USD ao câmbio daquela altura, segundo o Diário da República) para 5,5 mil milhões Kz (pouco mais de 10 milhões USD ao câmbio de quarta-feira, 17). As mudanças no capital social aconteceram entre 2008 e 2022, segundo informações consultadas pelo Expansão em Diário da República. A última alteração registada aconteceu há mais de um ano, em Janeiro de 2022, e não foi comunicada publicamente.
Para perceber a evolução completa do capital social é necessário recuar no tempo. A indústria arrancou com um capital social de 75 milhões Kz, sendo 15 milhões Kz subscritos pela Sonangol Holdings. A Damer, uma empresa de artes gráficas, que na altura era propriedade dos generais Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e Leopoldino do Nascimento “Dino”, e a construtora Odebrecht Angola tinham uma quota de 30 milhões Kz.
A 20 de Maio de 2013, os accionistas entenderam fazer uma alteração parcial do pacto, com um reforço de capital de 5,425 mil milhões Kz. O capital social da empresa passou então a ser de 5,5 mil milhões Kz, sendo que a Damer e Odebrecht Angola ficaram com uma quota de 2,2 mil milhões Kz cada, e a Sonangol com 1,1 mil milhões Kz. A 22 de Agosto, a Damer transmitiu a sua quota para a Cochan S.A., empresa com os mesmos accionistas da Damer.
A 25 de Maio de 2018, a empresa mudou a sua sede e alterou o objecto social, dando abertura para se dedicar à produção e comercialização de todos os produtos da agricultura e pecuária, à importação e exportação de derivados da cana-de-açúcar, fertilizantes e outros insumos. Passou também a poder desenvolver actividades como produção, distribuição e comercialização de energia eléctrica, administração de bens imóveis, operação de aeronaves, produção e comercialização de calcário agrícola, tratamento e venda de água potável, entre outras.
A 19 de Agosto de 2021, em consequência do arresto dos bens do general “Dino”, a sociedade foi obrigada a fazer uma nova alteração do pacto social, onde a Cochan transmitiu a sua quota para o Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE). Este movimento colocou a entidade pública como maior accionista da Biocom, juntamente com a Odebrecht Angola (40% cada), ficando a Sonangol com os restantes 20%. Ou seja, em termos práticos, o Estado detém 60% do capital social da Biocom e sempre foi o maior investidor da sociedade. No entanto, a empresa não aparece inserida na lista das entidades que fazem parte do Sector Empresarial Público, que está sob tutela do Ministério das Finanças (via IGAPE), nem foi possível ter acesso a nenhum dos seus relatórios e contas.